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A meia hora mais louca de sempre

A offseason da NHL está longe de ser o que era nos anos 90: uma época de sonhos e expectativas exageradas, onde todos esperavam trocas...

A offseason da NHL está longe de ser o que era nos anos 90: uma época de sonhos e expectativas exageradas, onde todos esperavam trocas e aquisições de tal magnitude que fossem capazes, sozinhas, de mudar a trajectória das suas equipas e colocá-las na rota da Stanley Cup. O salary cap tirou-nos isso. Hoje não há troca que se faça sem uma calculadora na mão, para prever todas as consequências que ela terá na estrutura salarial de cada equipa. Por 30 minutos, os GM's da NHL atiraram as preocupações janela fora e deram-nos a meia hora mais louca de sempre. Um terramoto, com direito a réplica e abalo premonitório.

Na noite de 30 de Junho, poucas horas antes da abertura do período de free agency, tudo começou em Edmonton. Os Oilers tinham trocado Taylor Hall para os New Jersey Devils. Durante uns minutos isso causou confusão. Há vários anos que se esperava que os Oilers trocassem um dos seus muitos avançados para reforçar outras áreas mais carenciadas. Mas Taylor Hall? Aquele que foi dono e senhor de Edmonton até à chegada de Connor "McJesus" e um dos melhores alas esquerdos da liga? Mais ajudava à confusão o facto de a equipa envolvida ser os Devils que, para além do guarda-redes Cory Schneider, nada tinham para oferecer aos Oilers. Poucos minutos passaram e chegaram os detalhes. Taylor Hall por Adam Larsson, um por um. Sem mais nada. Primeiro abalo. Larsson é um defesa, coisa que os Oilers precisam desesperadamente, é jovem, mas não está, nem de perto, ao nível de Hall. Esta é provavelmente a troca um-por-um mais desequilibrada de que há memória. Segurou esse título por aproximadamente 10 minutos. Seguiu-se o abalo principal.

P.K. Subban por Shea Weber. Estava lançado o pandemónio. Pouco tempo depois, veio a réplica. Steven Stamkos anunciava a renovação de contrato com os Tampa Bay Lightning e acabava como o sonho de outras 29 equipas. No entanto, a réplica teve muito menos magnitude na escala de Richter do que o abalo principal. A novela dos últimos meses tomou um lugar secundário na atenção do universo da NHL. Todos queriam falar da troca de P.K. Subban. Sim, porque, com todo respeito que Shea Weber merece, esta é a troca de Subban. Não só porque é o melhor jogador envolvido, facto que pode ser discutível para alguns, mas principalmente porque é ele, a sua personalidade e a forma como vai contra todos os cânones da cultura vigente, a questão central em debate.

Comecemos pelo o último acontecimento pela ordem cronológica dos eventos, a renovação de Stamkos, curiosamente o desenvolvimento menos polémico desta meia hora louca. Meses e meses de especulação culminaram na continuidade de Stamkos nos Lightning. $68 milhões de dólares divididos por oito anos. Parece muito, mas Stamkos teria conseguido muito mais no mercado livre. Se financeiramente esta não foi a melhor opção, desportivamente faz todo o sentido. Os Lightning são uma equipa jovem e de grande qualidade que vai estar na luta pela Stanley Cup nos próximos anos. Daí Stamkos ter deixado dinheiro em cima da mesa. Diz muito sobre o seu carácter, sobre a sua necessidade de ganhar. Na escala de escândalo, seguiu-se a troca de Taylor Hall. Pode-se tentar compreender a ideia de Peter Chiarelli, que agora terá que viver com o estigma de ter trocado Taylor (Hall) e Tyler (Seguin), e de ter sido burlado em ambas as ocasiões. Os Oilers precisam de defesas. Adam Larsson é bastante irregular e ainda não mostrou o suficiente para confiarmos nas suas capacidades, mas, pelo menos, é um defesa. Já a troca de Subban é impossível de defender.


Pernell Karl Subban

Como uma troca tão simples - um defesa por outro, sem qualquer condição associada - pode ser ao mesmo tempo tão complexa. A mais interessante de dissecar desde há muito tempo, sobretudo por ser tão difícil encontrar a sua motivação. Como já dissemos, pode haver quem ache que Weber é melhor que Subban, mas há duas coisas que são indiscutíveis: Weber é mais velho e tem um contrato muito mais pesado. Estende-se pelos próximos dez anos. DEZ. Termina quando Weber tiver 40 anos. A lista de defesas que conseguiram manter um nível elevado nessas idades tem três nomes: Ray Bourque, Nicklas Lidstrom e Al MacInnis. É muito improvável que Weber se junte a estas lendas, tanto que já se vem notando uma queda acentuada na sua produção de há dois anos para cá. Subban tem um salário mais alto, mas só terá 33 anos quando o contrato terminar. Então, qual a motivação? Simples. Os Habs não queriam Shea Weber, queriam ver-se livres de P.K. Subban.

O "problema" com Subban nunca foi a sua produção no gelo, mas sim fora dele. Subban é a maior personalidade na NHL. Fala com fluência, não diz sempre as mesmas frases feitas e é um entertainer por excelência. Isso irrita algumas pessoas. Irrita quem não gosta de o ver com um sorriso nos lábios e a dar autógrafos depois de uma derrota. Irrita quem acha que ele se diverte demasiado com aquilo que faz. Irrita quem não gosta das suas roupas da moda. Irrita quem acha que ele só pensa em promover a sua marca. Vamos esquecer que ele usa essa mesma marca para ajudar a comunidade. Vamos esquecer que doou $10 milhões de dólares a um hospital de Montreal. Vamos esquecer que é um dos melhores defesas da liga, com um Troféu Norris no seu nome e 278 pontos em 434 jogos. Qualquer que seja a razão, há uma secção do mundo do hockey que não suporta Subban. Calha um deles ser o treinador dos Canadiens. Há três anos, Michel Therrien proibiu Subban e Carey Price de fazerem a sua comemoração especial. Mais recentemente, criticou-o abertamente numa conferência de imprensa. Não é difícil ver esta troca como os Canadiens a preferirem Therrien a Subban. Escolha errada.

Esta situação ilustra bem o choque de culturas que existe actualmente na NHL. Os da velha guarda mantém-se apegados à maneira antiga de fazer as coisas. Quando aparece alguém a fazer as coisas de forma diferente, mesmo que isso seja para o bem do jogo, rejeitam e encaram isso como um handicap para a equipa. "What matters is the logo on the front, not the name on the back", dizem eles. Ao fazê-lo, prejudicam o crescimento da modalidade e, neste caso específico, põem em causa o futuro de uma organização. Subban era a cara dos Canadiens. Via-se com a camisola dos Habs até ao fim da sua carreira. Montreal era a sua cidade. Amava-a. À cidade, aos seus habitantes e à sua equipa. E os montrealenses retribuíam o sentimento. Tudo acabou porque alguém achou que a forma como Subban exterioriza o seu amor pelo jogo é uma falta de respeito. Agora vai ser a cara dos Predators, uma equipa jovem e progressiva, apetrechada para ser um sério candidato à Stanley Cup. Subban vai continuar a ser o mesmo e ainda bem para a NHL. Quem perde são os Canadiens.

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